segunda-feira, 2 de junho de 2008

Rio Summer

Depois da década das modelos, parece ter chegado o momento da moda brasileira avançar em território internacional. De marcas já estabelecidas, como a carioca fashion Osklen, a jovens estilistas, caso da paulista Juliana Jabour, o design do Brasil tem conseguido, recentemente, cada vez mais espaço nas araras e guarda-roupas mundiais.
Se conquistar o equivalente à liderança de Gisele Bündchen (no final de abril ela foi apontada, novamente, como a modelo mais bem paga do planeta, no ranking feito pela revista Forbes) ainda exige muitos metros de tecido a serem modelados, cortados e costurados, a moda nacional começa a dar, ainda que timidamente, passos decididos para pleitear um espaço no cenário fashion global. A Osklen, por exemplo, abriu mais de dez lojas próprias fora do país nos últimos seis anos, entre elas duas em Nova York, três na Itália e a mais recente, em 2007, no Japão. Juliana Jabour, que exporta suas peças há cerca de um ano e acaba de inaugurar sua primeira loja em São Paulo, dentro da Daslu, fez as mesmas japonesas que apreciam as peças da Osklen e de Alexandre Herchcovitch (também com loja em Tóquio, aberta ano passado) formarem fila na rede nipônica de fast fashion Uniqlo, que viu a minicoleção que encomendou para Jabour se esgotar rapidamente nos últimos meses.
De olho nesta "imigração" fashion, o publicitário Nizan Guanaes acaba de anunciar a criação da Rio Summer, novíssima temporada de moda que ambiciona impulsionar as vendas internacionais não só dos nossos "cabides", mas das roupas brasileiras. "Queremos colocar o Brasil na moda lá de fora. E é pelo Rio que a gente vai entrar no mundo", diz Alexandre Macedo, diretor de marketing da N-Idéias. A empresa, do mesmo grupo das agências Africa e DM9, de Nizan Guanaes, é a idealizadora do projeto e aposta num trunfo para conseguir a tão sonhada inserção do Brasil no "calendário de moda mundial", feito que nenhuma semana de moda brasileira conseguiMarcado para acontecer em novembro deste ano (entre 5/11 e 9/11), o Rio Summer vai desfilar apenas moda de alto verão (equivalente às "Cruise Collections" européias) e pretende se diferenciar e atrair o interesse do mercado externo pelo exclusivismo. Não tanto da moda, já que o alto verão acaba sendo uma continuação sofisticada porém reduzida da coleção de verão. Mas, principalmente, pela estrutura montada para receber os estrangeiros. "Todo o mimo será para os convidados internacionais", conta Macedo. Na lista dos cem "mimados", coordenada pelo consultor de moda inglês Robert Forrest, está até a diretora da Vogue América, Anna Wintour (sem presença confirmada, ainda).u até agora: tratamento de luxo para os convidados internacionais.
A centena de compradores e jornalistas de várias partes do mundo terá a viagem paga pelo evento e ficará hospedada na filial carioca do hotel Fasano, onde acontecerá também a abertura do Rio Summer, com show de Caetano Veloso. O grupo internacional frequentará, ainda, uma espécie de "clube vip", uma praia particular montada nas areias de Ipanema, que terá eventos e alguns desfiles especiais fora do Forte de Copacabana, sede oficial da temporada de moda.

Desfiles

Mulher de Nizan Guanaes e diretora da parte de importados da Daslu, Donata Meirelles é a responsável pela seleção das 20 marcas que desfilarão para os ingleses (e para os americanos, franceses, alemães) verem. Entre as grifes, a expectativa também atravessa fronteiras. "Resolvi participar do Rio Summer porque é uma temporada voltada para a exportação", diz a estilista Cris Barros, uma das primeiras a entrarem oficialmente na programação. Ela acaba de abrir duas lojas em pontos de luxo estratégicos para a clientela internacional (na frente do hotel Fasano e dentro da Daslu, em São Paulo) e já se prepara para dobrar a produção dos diferentes 400 modelos que cria a cada estação, a preços que passam facilmente dos R$ 1000 por charmosos vestidos que podem passear despretensiosamente em tardes ensolaradas.Na moda praia, a Cia. Marítima fechou sua participação no evento há cerca de duas semanas. Embora já desfile no São Paulo Fashion Week, Benny Rosset, dono da marca, acredita que o Rio Summer possibilite novos contatos fora do país. "Eles estão trazendo muitos editores e compradores de moda. Gente que talvez não venha para o SPFW", afirma. O estilista e empresário levanta ainda outro ponto positivo do evento: programado para acontecer em novembro, ele coloca a moda brasileira em evidência imediatamente após os desfiles internacionais (que acabam no início de outubro, em Paris) e no momento em que as publicações estrangeiras de moda começam a pensar em seus editoriais para o Verão 2008 (que lá fora acontece na metade do ano). "Se eu conseguir uma reportagem ou um comprador que normalmente não conseguiria, já vale", acredita.

Concorrência
Assim como a Cia Marítima, outras grifes que integram a programação das maiores temporadas de moda do país também dobrarão sua participação no calendário fashion nacional. É o caso da Osklen, confirmada no calendário do Rio Summer. Procurado pela reportagem do UOL, Oskar Metsavaht, estilista da grife, não pôde falar sobre sua entrada no "line-up" do evento de Nizan Guanaes porque estava em viagem à Nova York (EUA) e à cidade do Porto (Portugal). "Fazendo negócios", disse a assessoria. A grife, porém, não deixará de desfilar no SPFW.
Apesar de algumas marcas em comum e da estrutura ambiciosa do novo projeto carioca, orçado em 14 milhões de reais, Paulo Borges, organizador da semana de moda mais importante do país, põe panos quentes quando o assunto é a concorrência com o novo Rio Summer. "São propostas diferentes. Este projeto coordenado pelo Nizan só fará a moda brasileira se fortalecer, e isto será benéfico para o SPFW", afirma.
Para Alexandre Macedo, o foco das atuais temporadas é outro. "O São Paulo Fashion Week e o Fashion Rio são voltados para a divulgação interna das marcas", argumenta. Segundo Borges, no entanto, a semana de moda paulista tem, sim, projeção e renome internacionais.
Dividindo não só grifes (a presença da chique moda praia carioca da Lenny está praticamente confirmada nas passarelas do Forte de Copacabana) mas a cidade, a diretora do Fashion Rio, Eloysa Simão, pelo menos no momento, não vê o novo projeto como ameaça. "Não tenho informações sobre este evento, por isso prefiro não falar. Mas não acho que ele seja concorrente do Fashion Rio", diz. Com R$ 6 milhões a menos no orçamento em relação ao colega carioca, o Fashion Rio recebe 70 jornalistas e 150 compradores internacionais por edição, embora considere que seu foco, de fato, seja o mercado interno.
Novato na área, o Summer Rio segue a linha da política da boa vizinhança. "Não é um evento que compete com os outros", declara Macedo. "Mas, se no futuro, o Rio Summer acontecer na mesma semana [que o Fashion Rio ou o SPFW], aí [a competição] será inevitável".

Nenhum comentário: